Raquel Macdonald.
Luto agora comigo própria.Não te posso apagar, mas vou deitar fora os rascunhos.Eu sei qual é a minha direcção e a tua posição.Ensinaste-me a escrever sem o saberes fazer, ensinaste-me o que são amigos, sem o saberes ser e sem nunca teres revelado quem eras, fizeste-me gostar do esboço que desenhei a pensar em ti.Hoje olho para ele, não te vejo lá. Apenas encontro traços que não fazem sentido e que não sei como os consegui desenhar.Tudo se apagou, o papel está a ficar velho, desgastado... Já pensei em guardá-lo numa gaveta e imortalizá-lo. Não te odeio, não te amo porque não te conheço.
E se não for hoje, o papel acabará por se desfazer mais tarde. Sem pensar nas consequências atirei-o para a lareira.Observei-o enquanto se queimava e se tornava em cinzas...Lembrei-me apenas o quanto é facil desenhar o esboço de alguém que naturalmente acaba por vir a fazer parte da nossa vida e o quanto é dificil esquecê-lo, diria impossível. Nunca chegamos a esquecer, apenas podemos deixar para trás.Restavam uns escassos segundos até o papel desaparecer e veio-me um flashback de todos os nossos momentos, parecia um filme, que rodava rápido demais, numa ordem cronológica decrescente. Por momentos parecia que estava a voltar ao início, quando te conheci, mas não, foram só lembranças. Acabou o tempo, o papel deu lugar às cinzas e a lareira apagou-se, a chama morreu.